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Publicado: 26/03/2018 | 2068 visualizações

Apagão provocado por empresa privada evidencia riscos da entrega do sistema elétrico brasileiro

Foi o maior apagão do país, atingiu 14 estados brasileiros e é uma das consequências da política de privatizações 

O apagão que atingiu quase todo o país na tarde desta quarta-feira (21) teve como causa falhas ocorridas durante testes realizados em horário comercial pela empresa chinesa State Grid, que opera o complexo de Belo Monte. A informação é de trabalhadores do sistema elétrico. A falta de energia afetou principalmente os estados do nordeste, além de Amazonas, Pará, e Tocantins, com repercussões nas demais regiões. 

Eles afirmam que para esse tipo de procedimento – de "reaperto" em conexões de proteção do sistema de transmissão – a orientação geral para as empresas que operam no Sistema Eletrobras é que seja realizado fora dos horários de maior consumo, durante a madrugada ou feriados. Nos estados do Norte e Nordeste, o apagão paralisou semáforos e afetou a circulação de trens e metrôs. O comércio também teve de fechar mais cedo. 

"Mas eles fizeram um teste como esse em circuitos com 4GW no horário comercial", reclamaram trabalhadores em grupos de comunicação internos. A subestação de transmissão da usina de Belo Monte onde ocorreu a falha teve de ser desligada, afetando todo o sistema. O único estado que não foi atingido pelo corte foi Roraima, que recebe energia da Venezuela.

"É como se fosse uma carreira de dominó. Se derrubar uma pedra, derruba todas na sequência. Essa tentativa de ligamento (o "reaperto") de linha de Belo Monte deu rejeição de carga no país inteiro", explica o diretor do Sindicato dos Eletricitários de Campinas e Região (Sinergia), Wilson Marques de Almeida.

Ele lembra ainda que Belo Monte e toda a sua linha de transmissão são controlados por operadores privados. "No momento, não conseguimos precisar ainda se é reflexo do sucateamento por parte da iniciativa privada, se é erro de operação ou se houve operação indevida."

Em nota divulgada nesta quinta-feira, 22, o Coletivo Nacional dos Eletricitários (CNE) alertou para os riscos de privatização da Eletrobras. 

"O CNE entende que em um momento como esse ser oportuno montar um grupo de técnicos para analisar em paralelo as causas da ocorrência e do blecaute, assim como sobre as responsabilidades relacionadas, visto que a ocorrência poderá servir para nortear as decisões sobre o processo de privatização do grupo Eletrobras", diz a entidade, em nota.

"As notícias que chegaram ao conhecimento do Coletivo Nacional dos Eletricitários dão conta de que o Bipolo 1 de Xingu estava operando com um fluxo de 4 Giga Watts. Este equipamento teve projeto, fornecimento, montagem, testes e colocação em operação pelos chineses da State Grid. A State Grid a grande interessada na privatização da Eletrobras", denuncia o CNE.

 "Por isso, é importante que seja realizada uma avaliação técnica em paralelo por um grupo especialmente constituído pelo Congresso Nacional, no âmbito das comissões dos projetos de lei que estão tramitando", afirma a entidade. 

 Leia abaixo, a nota na íntegra:

 Ontem (21/03), parte do Brasil ficou às escuras, devido a um problema técnico ocorrido no Sistema Interligado Nacional – SIN. Tal problema traz à tona uma discussão necessária, que é sobre o processo de privatização do Setor Elétrico Estatal. É isso que o COLETIVO NACIONAL DOS ELETRICITÁRIOS – CNE quer aqui discutir.

 As diversas manchetes não conseguiram traduzir o problema, e deram margem para todo o tipo de especulação, inclusive por parte do próprio ministro de minas e energia, Fernando Coelho, que como sabemos, pouco sabe sobre o setor, veja a notícia abaixo:

 O ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, disse que o apagão ocorreu após uma falha na usina de Belo Monte, no Pará. A Centrais Elétricas do Pará (Celpa) informou que um problema na geração de energia da usina de Tucuruí, nordeste do estado, pode ter causado o apagão. (g1.globo.com - 21/03/2018 16h56 )

 O problema se deu na Subestação Xingu, na saída do bipolo CC da Belo Monte Transmissora de Energia - BMTE que ao contrário do que se chegou a afirmar não pertence à Eletronorte e não é em Tucuruí. Segundo se apurou, foram durante testes na linha de transmissão que transmitia 4GW de carga houve, e que após uma falha, a linha acabou saindo de serviço, provocando uma reação em cadeia. Segundo o O.N.S em sua página Às 15h48 do dia 21/03/2018 ocorreu uma falha de um disjuntor na subestação Xingu, no Pará. Em consequência, houve o desligamento automático de diversas linhas de transmissão em 500 kV, componentes dos troncos de interligação Norte/Nordeste/Centro-Oeste, Tucuruí/Manaus, Tucuruí/Vila do Conde, Elo cc 800 kV Xingu/Estreito e da UTE Belo Monte, entre outros, acarretando uma redução total de carga no SIN, da ordem de 18.000 MW.

 Como se vê, a empresa estatal Eletronorte não teve qualquer responsabilidade com o problema, pois a SE Xingu é operada e mantida pela concessionaria Linhas de Xingu Transmissora de Energia (controlada pelo Grupo Espanhol Isolux). Ja a LT (CC) +-800kV Xingu/Estreito é de responsabilidade da BMTE (a qual construirá ou construiu um Estação Conversora na SE Xingu), concessionária formada por State Grid 51% Furnas 24,5% e Eletronorte 24,5%.

 O CNE entende que em um momento como esse ser oportuno montar um grupo de técnicos para analisar em paralelo as causas da ocorrência e do blecaute, assim como sobre as responsabilidades relacionadas, visto que a ocorrência poderá servir para nortear as decisões sobre o processo de privatização do grupo Eletrobras.

 As inúmeras propostas de privatização da Eletrobras que chegaram ao congresso, tanto o PL 9463/2018, como a MP 814/2017 tratam o tema Energia Elétrica como mercadoria, e isso vem sendo denunciado pelos trabalhadores através das campanhas publicitárias, dos debates, das mobilizações que tem feito em todos os cantos do país.

 O apagão que houve no dia de ontem deve levar em consideração, por exemplo:

 1 - A extensão da ocorrência;

 2 - Os interesses diversos decorrentes do envolvimento e as responsabilidades de diversos agentes privados e estatais de G, T e D, dentre os quais principalmente a gigantesca chinesa State Grid;

 3 - O ONS com relação aos estudos sistêmicos, programação e operação sistêmica;

 4 - A Empresa de Pesquisa Energética - EPE e Aneel envolvidas no planejamento, consequentemente, também as obras que não foram realizadas de Transmissão devido aos 5000 km de LTs não construídos pela ex-gigantesca privada Abengoa;

 5 - Os sinais da imprensa de omissão de informações sobre :

• A responsabilidade pela concessão da subestação Xingu;
• O tempo de operação do equipamento (novíssimo);
• O responsável pelo projeto e fornecimento dos equipamentos da SE Xingu;
• Responsável pelo O&M da Subestação Xingu;

 As notícias que chegaram ao conhecimento do Coletivo Nacional dos Eletricitários dão conta de que o Bipolo 1 de Xingu estava operando com um fluxo de 4 Giga Watts. Este equipamento teve projeto, fornecimento, montagem, testes e colocação em operação pelos chineses da State Grid. A State Grid a grande interessada na privatização da Eletrobras.

 Por isso, é importante que seja realizada uma avaliação técnica em paralelo por um grupo especialmente constituído pelo Congresso Nacional, no âmbito das comissões dos projetos de lei que estão tramitando.

 Toda essa situação demonstra que privatizar um setor estratégico e deixar a vida da população, a economia, a indústria é a pior das escolhas para o nosso país. A ANEEL impõe pesadas multas às empresas nacionas, quando acontecem eventos dessa natureza, todavia, a informação que recebemos é que não haverá multa para a empresa do grupo State Grid.

Isso nos faz lembrar, os desastres naturais que houveram recentemente em Mariana, no Pará, onde ainda não se chegou aos culpados. A energia elétrica não pode ser visto somente como mercadoria, da forma como o governo está vendo, e servir apenas para fechar o rombo fiscal criado pelo próprio governo, e que agora começa a mostrar o quanto ficaremos vulneráveis.

 

FONTE:

COLETIVO NACIONAL DOS ELETRICITÁRIOS – CNE

ENERGIA NÃO É MERCADORIA.