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Publicado: 17/04/2018 | 4611 visualizações

ARTIGO - A Petrobrás, a Carne Brasileira e o Câncer

Em dia 10 de abril de 2018 o SINDIPETRO BAHIA participou de Audiência Pública na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado que discutiu a determinação da Petrobras de fechar as Fábricas de Fertilizantes Nitrogenados (FAFEN) na Bahia e em Sergipe.

Com sala cheia e debate intenso, os membros da comissão bem como demais participantes da audiência mostraram-se indignados com o descaso do Presidente da Petrobras, Pedro Parente que, tendo sido convidado a esclarecer a iniciativa de hibernação, não compareceu, não indicou representante nem justificou ausência.

Esta Comissão, que representa uma parcela significativa do PIB brasileiro, o agronegócio, mostrou-se preocupada com as consequências da decisão da Petrobras nessa área e teve nesta audiência a participação de organismos importantes do setor como a Associação Brasileira das Industrias Químicas – ABIQUIM, a Associação Brasileira das Industrias de Suplementos Minerais – ASBRAM, a Confederação da Agricultura e Pecuária – CNA,  a Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás – FAEG, a Comissão Nacional de Pecuária e a Associação Novilho Precoce do Estado de Goiás.

Também participaram do evento o Vice-governador do estado da Bahia, João Leal, o prefeito de Laranjeiras, Paulo Hagenbeck e o Sindipetro SE/AL.

A discussão girou em torno de 4 questões principais como consequência do fechamento das FAFEN`s:

  1. O risco da dependência exclusiva do mercado internacional de fertilizantes;
  2. O desemprego e os impactos econômicos para os estados da Bahia e Sergipe;
  3. A desindustrialização do estado da Bahia com fechamento de outras indústrias do Complexo Petroquímico de Camaçari;
  4. E o desabastecimento de Ureia Pecuária com risco à segurança alimentar dos futuros produtos pecuários como a carne, o leite e seus derivados.

O diretor do SINDIPETRO BAHIA, Jailton Andrade, levou ao conhecimento dos senadores o risco alimentar futuro com o desabastecimento da ureia pecuária no país, já que a Petrobras é a única fabricante do produto. “É preocupante que a Petrobras e, portanto, o Brasil, deixe de fornecer esse insumo para a pecuária, que não é substituível, ele precisa ser fabricado no Brasil e a Petrobras é quem fabrica” e o fechamento das fábricas trará “um risco iminente para a produção agropecuária no país”.

Disse ainda que a hibernação da FAFEN-BA implicará também no fechamento outras indústrias do Polo Petroquímico de Camaçari que dependem da Amonia, Ureia e Gás Carbônico a exemplo da Acrinor, Proquigel e Carbonor, já que a Petrobras não tem condições de importar os produtos que fabrica para abastecimento dos seus atuais clientes. “A Carbonor é a única fabricante se insumos para o tratamento de hemodiálise no Brasil e ela depende do Gás Carbônico que fabricado pela FAFEN-BA. Então percebam o quão grave é a decisão do Presidente da Petrobras em fechar essa unidade”, completou Jailton.

O Presidente da Comissão de Pecuária da FAEG e da Associação Novilho Precoce e membro da Comissão Nacional de Pecuária, Mauricio Veloso, também fez duras críticas à iniciativa da Petrobras.

Segundo ele, o fechamento das fábricas implicará no desabastecimento de ureia pecuária no país, insumo fundamental na suplementação animal para a produção de carne e leite, e em substituição a essa ureia poderá haver fornecimento animal de ureia fertilizante que contém formaldeído, substância conhecidamente cancerígena. “São 170 milhões de cabeças de gado que precisam desta ureia com segurança absoluta porque depois vão acusar a gente de está usando ureia agrícola ou com algum produto que ninguém sabe o que é”, afirmou. Veloso disse que a segurança alimentar dos países importadores da carne brasileira depende da qualidade nossa ureia. “Quando falamos em importação de ureia precisamos ter muita responsabilidade porque a segurança dos alimentos que iremos exportar dependem necessariamente da segurança alimentar dessa ureia que está sendo ministrada ao nosso rebanho” e lembrou que “até pouco tempo atrás nós importamos carne radioativa de Chernobyl”.

A UREIA PECUÁRIA

As fábricas de fertilizantes da Petrobras produzem uma ureia especial chamada REFORCE N. É um sólido granulado, na cor branca e tem como composição básica a ureia (46% de nitrogênio). Segundo a Petrobras[1], o REFORCE N é um aditivo alimentar para ruminantes (bovinos, caprinos, ovinos e bubalinos). Seu uso proporciona aos criadores substancial economia nos custos de ração, uma vez que fornece nitrogênio não proteico e aumenta a produção de carne e leite dos ruminantes submetidas a dietas com baixo índice proteico.

Devido a especificações técnicas do REFORCE-N, a importação deste produto seria muito difícil e o custo inviabilizaria a produção do suplemento animal, podendo fazer com que seja entregue no mercado interno suplemento com formaldeído pela adição de outro tipo de ureia. Com isso, a carne, o leite e seus derivados estariam contaminados com substância cancerígena.

Por isso, grave a decisão do Presidente da Petrobras que, ao fechar as FAFEN`s, coloque em risco a saúde, não somente dos consumidores brasileiros, como também de países como Hong Kong, China e Iran, maiores importadores da carne brasileira que juntos consumiram 49% do que o Brasil exportou em 2017.

 

UREIA AGRÍCOLA E O FOLMALDEIDO

A ureia e? encontrada no mercado sob quarto formas: ureia fertilizante, ureia pecuária, ureia industrial e a ureia Premium. Segundo informações da Petrobras, a ureia fertilizante sofre a adição de formal a? base de 0,15%. O formal reage com a ureia, formando um composto chamado de metilenodiureia (MDU), resultando em cristais mais duros, elevando a resistência dos grãos, padroniza a granulometria, e reduz a higroscopicidade da ureia, facilitando, desta forma, seu uso como fertilizante, tanto isoladamente ou quando associada a outros produtos visando a? composição dos adubos formulados do tipo NPK.

Segundo Informe técnico nº 53 da ANVISA, em 1995, a Agencia Internacional de Pesquisa do Câncer (IARC) da Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou o formaldeído no Grupo 2A, isto e?, provável cancerígeno em humanos. Em 2003, foi montado um grupo de trabalho que reavaliou os resultados de estudos existentes e optaram pela reclassificação do formaldeído quanto ao seu potencial cancerígeno. Desta forma a partir de julho de 2004, a IARC classificou este composto como carcinogênico (Grupo 1), tumoroge?nico e teratogênico por produzir efeitos na reprodução em humanos e em estudos experimentais demonstraram ser também, para algumas espécies de animais.

Os tipos de câncer associados ao formol são de nasofaringe, nasossinusal e ha? fortes evidencias para leucemia.

 

A UREIA FERTILIZANTE E A OPERAÇÃO LEITE COMPEN$ADO

Em maio de 2013 o Ministério Público do Rio Grande do Sul, com apoio do Ministério da Agricultura, da Receita Estadual e da Brigada Militar, desencadeou a “Operação Leite Compen$ado” para apurar fraude na indústria brasileira de laticínio. As investigações apontaram para adição de ureia agrícola (fertilizante) no leite cru, com o formaldeído acrescido por fazer parte da composição do produto. A adulteração tinha como objetivo aumentar o volume com água e tentar manter os padrões do leite.

A simples adição de água, com o objetivo de aumentar o volume, acarreta perda nutricional, que é compensada pela adição da ureia – produto que contém formol em sua composição – e é considerado cancerígeno pela Agência Internacional para Pesquisa sobre Câncer e pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

A falsificação foi comprovada por meio de análises químicas do leite cru, onde foi possível identificar a presença do formol, que mesmo depois dos processos de pasteurização, persiste no produto final. Com o aumento do volume do leite transportado, os “leiteiros” lucravam 10% a mais que os 7% já pagos sobre o preço do leite cru, em média 0,95 real por litro.

A operação já prendeu 72 pessoas, denunciou 203 e condenou 16. São inspetores, auditores fiscais, fazendeiros, transportadores, etc., todos envolvidos no maior escândalo de fraude no leite no país.

Ao contrário da ureia pecuária, que é produzida no Brasil e não contem formol, a ureia fertilizante tem uma importação expressiva no país e é essa adição de formol que possibilita o transporte a longas distâncias.

O mesmo risco produzido pela adição de ureia fertilizante no leite brasileiro entre os anos de 2012 e 2013, pode assombrar a população mundial caso haja desabastecimento da ureia pecuária produzida pela Petrobras em suas fábricas de fertilizantes.

 

OUTROS CONTAMINANTES DA RAÇÃO ANIMAL

Além do formaldeído, outros contaminantes podem dar cabo da conhecida qualidade e segurança da carne e leite brasileiros.

É que a tentativa de importação de ureia pecuária que, conforme Elizabeth Chagas da ASBRAM, nunca foi realizada, pode agregar metais pesados e outros contaminantes nos porões de navios e containers não preparados para essa carga especial.

Por não existir modal marítimo internacional para a ureia pecuária, seriam utilizados navios e containers que transportam ureia fertilizante, cujo cuidado com a carga não é tão necessário, não primando pela limpeza, desumidificarão e desoxidação dos porões.

Além disso, substâncias como o nitrato de amônia e cloreto de potássio que são utilizados na mistura de adubos, mas que são tóxicos ao animal, podem contaminar a ureia pecuária pelo uso de ensacadeiras contaminadas na mistura NPK, também trazendo insegurança alimentar.

 

A IMPORTANCIA DAS FAFENS PARA O PIB BRASILEIRO

O Brasil é o maior exportador de carne do mundo. Entrega carne in natura, processada, miúdos, tripas e carnes salgadas. Dados da ABIEQ (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes) contabilizam a exportação de 1,53 milhão de toneladas de carne em 2017, gerando um faturamento de U$ 6,28 bilhões.

A carne brasileira foi entregue a 137 países no ano passado, sendo que Hong Kong, China, Iran e Egito consumiram 906 mil toneladas.

Não é fácil tem esse nível mundial de produtividade num país cuja sazonalidade do clima é tão intensa. “Sabe o que significava o boi de sanfona? Animais que comiam bem durante o período das águas e que perdiam ou o peso ganho durante o período das águas ou perdiam a própria vida no período da seca. Esta foi a história da pecuária do Brasil durante muitos anos”, indagou Veloso à Comissão de Agricultura do Senado.

Veloso afirma ainda que, além do ingresso do capim braquiária desenvolvido pela EMBRAPA, o desenvolvimento da pecuária brasileira só foi possível graças à descoberta, também pela EMBRAPA, de propriedade peculiar ureia “a ser consumida junto com a suplementação mineral ou com as rações de forma que o gado pudesse ter a capacidade de digerir alimento de péssima qualidade, alimento seco, e assim os animais não apenas não perderiam mais o peso, como continuariam a ter ganho de peso, a ter saúde e a ter produtividade”, completou.

O sucesso na produção pecuária brasileira só é possível, portanto, porque a indústria de ração e suplementos minerais para o gado e outros ruminantes utiliza o REFORCE N produzido pelas FAFEN`s na engorda do ruminante e utilizou 250 mil toneladas de ureia pecuária em 2017, segundo dados da ASBRAM.

Deste modo, sem as Fábricas de Fertilizantes Nitrogenados, o país não será capaz de manter os níveis de produtividade recentes e contribuir para os atuais 25% do PIB brasileiro no agronegócio.

Isso demonstra claramente que no negócio dos nitrogenados (fertilizante e pecuário) promove alta lucratividade no agronegócio que supera, e muito, o alegado prejuízo da Petrobras.

 

A CRISE DA HEGEMONIA BRASILEIRA NA EXPORTAÇÃO DE CARNE

Além do desemprego de 1,6 milhão de trabalhadores de frigoríficos e fazendas aumentando a crise pela qual o Brasil passa, a irresponsável e decisão da Petrobras de fechar as FAFEN`s, como se viu, causará o desabastecimento de ureia pecuária no país. Com isso, os processos produtivos pecuários brasileiros ficarão a mercê de uma ureia de origem duvidosa pelas conhecidas dificuldades de importação da verdadeira ureia pecuária transferindo riscos à segurança alimentar no consumo da carne, leite e derivados.

Por conseguinte, o Brasil pode perder um mercado externo no setor de U$ 6,2 bilhões ao ano, já que os países importadores perderão a confiança na carne brasileira pelo risco de contaminação com formaldeído, bem como por nitrato de amônio e cloreto de potássio.

O SINDIPETRO BAHIA está acompanhando toda a grave situação imposta pelo presidente da Petrobras, Pedro Parente, e não permitirá que o Brasil esteja no centro de uma crise alimentar mundial.

 

#NÃOaoCANCERdaCARNE

#TODOSpelaFAFEN

#aFAFENéNOSSA

#FAFENéPETROBRAS

#juntosSOMOSmaisFORTES

 

Jailton Andrade – diretor do Sindipetro Bahia e trabalhador da FAFEN Bahia

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1.  Disponível em: Agronegócio

2.  Dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC)

3.  Disponível em: Comissão Técnica de Alimentos

4.  Disponível em: INCA

5.  Disponível em Veja/Abril

6.  Durante Audiência Pública no Senado.

7.  Disponível em: G1/Globo.com

8.  Faturamento das exportações de carne em 2017 (ABIEC)