Primeira edição do Prêmio Pétalas de Benguela homenageia Ana Georgina Dias
julho 30, 2025 | Categoria: Banner Principal, Notícia
Idealizado pela diretoria do Sindipetro Bahia, ocorreu na noite desta quarta-feira (30) a primeira edição do Prêmio Pétalas de Benguela – Mulheres Negras de Destaque, na Subsede de Cultura e Cidadania do sindicato, em Salvador. A homenageada foi Ana Georgina Dias, supervisora técnica do escritório regional do DIEESE na Bahia, por sua contribuição à luta das mulheres negras contra o racismo e a desigualdade de gênero no mundo do trabalho e na sociedade. À frente do DIEESE-BA há 18 anos, Ana Georgina tem grande impacto no movimento sindical e nos avanços da classe trabalhadora baiana.
Emocionada, Ana Georgina disse estar honrada em ter sido a primeira homenageada da premiação. “É uma honra também para todas as mulheres que vieram antes, mulheres que talvez nunca imaginassem que teriam uma descendente reconhecida pelos trabalhadores e trabalhadoras”, afirmou, marcando com orgulho sua posição enquanto economista de trabalhadores. “A gente apenas sistematiza um conhecimento que é da classe trabalhadora. É uma honra lutar ao mesmo lado que vocês”, finalizou, dedicando o prêmio também a seus colegas do DIEESE.
Ao entregar o prêmio, a coordenadora geral do Sindipetro-BA, Elizabete Sacramento, exaltou a trajetória de luta e construção política da homenageada da noite. “Para mim, que também sou uma mulher negra, foi muito importante chegar no movimento sindical e sempre ver nas mesas de debate uma forte representação da nossa ancestralidade e da nossa negritude”, relatou, manifestando gratidão. “Se muitas de nós chegamos aonde chegamos, foi devido a mulheres como você que nos antecederam, calçando os nossos caminhos”, agradeceu.
A diretora de Políticas Específicas do Sindipetro, Marilda Brandão, apresentou a justificativa do prêmio e contou um pouco da história de Ana Georgina, um gesto singelo de reconhecimento de sua trajetória. A premiação ocorreu antes do PetroCine — Edição Especial Julho das Pretas, em parceria com a organização Pretas pelo Clima, que debateu autoestima e empoderamento das mulheres negras através da estética afro-centrada.
A premiação presta uma homenagem a Tereza de Benguela, rainha quilombola que liderou, no século XVIII, o Quilombo do Quariterê por mais de duas décadas. Ela comandava não apenas a resistência armada, mas também a organização política, econômica e social da comunidade formada por negros e indígenas — um exemplo concreto de liderança feminina negra, anticolonial e coletiva. Já as pétalas representam a beleza e a resiliência das mulheres negras. Assim, o nome combina resistência com ancestralidade, honrando a luta das mulheres negras no mundo do trabalho e na sociedade.
Ana Georgina Dias tem trajetória brilhante em área do conhecimento com escassez de mulheres negras
O sorriso largo e o olhar sereno não impedem o discurso firme e consciente de seus valores. Em defesa da classe trabalhadora e do movimento sindical, sempre apresentando um conhecimento técnico impecável, a economista Ana Georgina Dias acumula 18 anos à frente do escritório regional do DIEESE na Bahia. A supervisora técnica não esconde que o DIEESE é uma das paixões de sua vida, listando ainda o encanto pela Economia e seu amor por Salvador.
Filha de pais baianos de Amélia Rodrigues, Ana Georgina na verdade nasceu em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Seu pai era militar do Exército, e foi outra transferência que fez a família se mudar para onde seria o início de seus estudos e de sua carreira profissional. Georgina chegou a Brasília ainda pequena, em idade pré-escolar. Na capital do país ela completou seu ciclo básico de estudos e se preparou para o vestibular. “Eu gostava muito de matemática, mas também das ciências humanas como filosofia, sociologia, ciência política. A economia foi a solução perfeita”, conta, explicando a escolha por Ciências Econômicas. O curso, concluído na UnB, foi sua porta de entrada para o mercado de trabalho. “Desde a colação de grau eu já tinha emprego”, brinca.
Estagiária do Ministério da Agricultura, Ana Georgina foi integrada assim que se graduou em Economia. Lá, conta que aprendeu a trabalhar enquanto economista, lembrando com gratidão das trocas com os colegas e das amizades que construiu. “Economia é uma ciência muito importante, por vezes incompreendida. Mas ela não é neutra, quem exerce vai imprimir o seu viés”, avalia. Em um órgão ligado ao agronegócio, seus valores ideológicos sobressaíam. Em um dia que mudaria sua vida, um de seus amigos no ministério lhe indicou a seleção para o DIEESE-DF, com um reforço: “essa vaga é a sua cara”.
Houve empate na seleção, e outra pessoa foi escolhida para a vaga. Mas poucas semanas depois, chegou um novo convite, dessa vez para a subseção do DIEESE na Confederação Nacional dos Trabalhadores da Indústria (CNTI). O colega de ministério estava certo, Ana Georgina logo entendeu que trabalhar no órgão, assessorando e defendendo a classe trabalhadora, era sua missão de vida. Restava agora o aconchego: “eu queria voltar para casa”.
A casa a que se refere, porém, é um lugar onde nunca havia morado. “Meus pais são baianos, minhas avós são comadres, todo ano eu passava férias na Bahia. A verdade é que eu sempre tive vontade de morar aqui”, conta Ana Georgina. Quando o desejo bateu mais forte, surgiu uma vaga no DIEESE-BA. “São as sincronicidades da vida”, filosofa, lembrando como começou a trabalhar na subseção do Sindicato dos Químicos e Petroleiros, no fim de 2004. Sua nova casa entregou os encantos já conhecidos: “eu sou completamente apaixonada por Salvador”, admite.
Cerca de dois anos depois, em 2007, Ana Georgina assume a supervisão técnica do DIEESE-BA, tornando-se a responsável pelo escritório regional e a face mais pública do órgão no estado. Enquanto mulher negra, já enfrentou atitudes sutis, mas perceptíveis. “É sorrateiro, velado. Você percebe uma surpresa por estar em determinado lugar. Não esperam que você
fale alguma coisa relevante”, lamenta, criticando o racismo no mundo do trabalho. “Além de ser um crime contra a dignidade humana, o mais nefasto é que não te permite ser quem você poderia ser”. As dificuldades nunca abalaram Ana Georgina, que segue firme na missão de assessorar o movimento sindical baiano. “Trabalhador do DIEESE sofre de tudo menos de tédio. Trabalhamos muito, porque somos poucos, mas dormimos com o coração quentinho quando conseguimos alguma vitória para os trabalhadores e trabalhadoras”.